quarta-feira, 30 de junho de 2010

(Crônica) Os Grandes Pecados de Nosso Tempo

Parece que roubo e assassinato vão aos poucos se tornando pecados leves, coisa para ser relevada. Grandes pecados, sujeitos à execração pública, são outros.

Declarar-se ateu, por exemplo. Anos atrás, o ateu era gentilmente convidado a entrar numa fogueira, onde esse terrível pecado era lavado de sua alma a ferro e fogo (ou somente a fogo, que ja era suficiente). Hoje, os métodos de discriminação não são assim violentos. Mas vá o cristão declarar-se ateu. Você só não será excomungado porque seria um paradoxo excomungar, afastar do convívio religioso, quem não faz parte dele.

Mas não faltarão os que o ameaçarão com o fogo do inferno e até tentarão convertê-lo. Que Deus o livre, leitor, de declarar-se ateu. É preferível dizer que você é agnóstico. Agnóstico é aquele que tem suas dúvidas, que só acredita no que é comprovado. Mas em caso de necessidade, pelo sim, pelo não, nada o impede de agarrar-se em algum santo.

Outro grande pecado atual é defender a ditadura (aquela de 1964, não confunda). Hoje todo mundo é contra, é como ser contra a pedofilia, o tsunami, a seleção argentina. A ditadura é um cão sem dono, ao qual todos atiram pedras. Seus opositores, esses sim, tornaram-se heróis do povo. Vá notando aí: se além de ateu você for defensor da ditadura já merece ser queimado em praça pública e ter as cinzas espalhadas aos quatro ventos.

Mas você vai além. Isto é, além de ateu e defensor da ditadura, você não está torcendo pela nossa seleção na presente Copa do Mundo. Você não coloca a camisa verde-amarela, não sai por aí sacudindo bandeirinha, não se empolga com os jogos. Grande pecado. As mocinhas de amarelo o olham com desprezo; você não é patriota, não percebe que o futebol é nosso melhor e mais conhecido produto de exportação. Sim, para nos representar "lá fora" temos o melhor futebol do mundo, isso não basta? Ou você vai ainda querer que sejamos os melhores em saúde, educação ou segurança?

Pecado grave é também matar passarinho. Dá mais "cana" do que assassinar a sogra. Posso dizer que, devido à má pontaria, sempre estive livre de cometer tal barbaridade em minha juventude. Mas, que Deus me perdoe, pequei pela intenção. Cansei de permanecer devaixo dos pés de árvore, tentando pegar algum sabiá desprevenido, com a odiosa intenção de convertê-lo em churrasquinho. E, pior ainda, como naquela época isso não configurava crime, não purguei esse pecado no confessionário do frei Sebaldo, nosso estimado sacerdote.

Hilton Görresen

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